Neste texto, pretendo discorrer não a respeito do Desperto enquanto indivíduo ou do Despertar per se, mas das relações que o Desperto estabelece com o mundo. O título não é “o Desperto e o mundo” por um motivo: existe, sim, essa entidade, que não sou eu nem é você, “o mundo”; porém, ele é feito pelas pessoas que nele habitam, eu e você, criado e recriado constantemente, numa relação dialética de pertença. Portanto, é pelo viés Sistêmico e Existencialista que pretendo abordar o assunto.
Por que o Desperto é diferente das outras pessoas? Porque ele vê o mundo de uma forma menos “dada”, pronta e estanque. Compreende que é um sujeito ativo, cuja vontade é artífice da realidade. Olhe ao redor. Há uma massa amorfa que se move apressadamente e sem rumo, que está acostumada a repetir seus hábitos irrefletidamente, e para quem o mundo sempre foi assim e sempre o será. Para o Desperto, levar esse tipo de vida inerte é inconcebível. Sim, as coisas na natureza tendem ao equilíbrio, e isso torna o mundo um tanto estático. Mas a força de vontade do Desperto é maior do que a dessa massa mediana, moderada e remediada. E ele sabe que há mais dinamismo na realidade do que o olhar banal consegue apreender.
Como essa diferença no modo de enxergar o mundo, isto é, no seu paradigma, o diferencia da massa incauta, há que se considerar que a relação que o Desperto estabelece com o mundo é também diferenciada. Não que o Desperto carregue consigo uma letra escarlate. Porém, as pessoas que o conheciam antes do Despertar percebem essa mudança de visão de mundo (e conseqüente mudança de postura perante o mundo). É comum que pessoas mais ativas, críticas e/ou desafiadoras do status quo em algum grau despertem raiva, inveja ou simples desconforto nas pessoas na sala de jantar, que estão ocupadas em nascer e morrer.
Outro fato a se considerar é que, usando sua vontade a fim de alterar a realidade, a realidade revidará. Afinal, para toda ação, há uma reação, de mesma intensidade e sentido contrário, não é mesmo? Talvez isso aumente o distanciamento do Desperto quanto aos seus conhecidos, visto que o que ele vislumbra como realidade não pode ser imposto aos demais. O Desperto se libertou das amarras da ilusão do mundo simplório e fadado, o mundo da mediocridade, e os que com ele convivem simplesmente não conseguem ver as “verdades” das quais ele fala. O que é verdade e o que é ilusão, loucura, sendo que a realidade é o que nos perpassa pelos sentidos?
Este texto não conta com a pretensão de ser a pedra angular do tema nem mesmo neste blog, e sim de lançar pensamentos/observações para causar inquietações nos jogadores e demais leitores, não apenas porque Mago: A Ascensão é um jogo de horror pessoal e esse tema, “o Desperto no mundo”, pode ser incorporado ao psicológico dos personagens, dando maior profundidade e complexidade às interpretações; mas porque os Despertos agem sobre o mundo, transformando-o de acordo com seu paradigma. E o meu paradigma diz que o mundo é o que nós fazemos dele e que temos a responsabilidade de auxiliar nossos congêneres no caminho da evolução pessoal, isto é, da Ascensão. Seja através da atuação política, sendo mentor de um grupo, seja através de sua própria existência, demonstrando vivencialmente como uma outra realidade além da normativa e reprodutivista é possível, ou seja escrevendo textos para um blog…