Existem vários tipos de pessoas, aquelas com visão limitada que só enxergam valor e beleza do óbvio, e existem aquelas que enxergam muito mais além. Veja o exemplo da foto acima, é uma casa velha e abandonada, a maioria das pessoas diria que é feia, que parece de filme de terror, enfim. Mas algumas diriam que é linda, que é perfeita, que evoca um tipo de sentimento, uma sensação boa inclusive. Podem me acusar de mistificar demais as coisas, mas o segundo tipo é o tipo de pessoa que me interessa numa mesa de RPG.

Iniciei meu texto com esse exemplo porque ele demonstra aonde quero chegar. Quando você joga RPG, você já é taxado de “n” coisas, a maioria delas perjorativas.  Só o fato de você jogar RPG já o faz um tantinho diferente dos demais, bom, ou pelo menos deveria. Todo mundo que tem um pouco de familiaridade com RPG sabe que existem dezenas, centenas de cenários e sistemas disponíveis para jogar. Eu mesmo já joguei muitos, mas um em especial me cativou mais do que os outros: Mago a Ascensão.

Ambientado num mundo pré-apocalíptico no qual a humanidade se perdeu em meio ao seu egoísmo e desejo de poder e riqueza; um mundo onde a magia não encontra mais lugar, a natureza está morrendo e a pouca beleza reside de forma fúnebre em velhos casarões, esculturas em cemitérios e glórias do passado; um mundo no qual homens e mulheres despertas travam uma batalha para manter o pouco que resta da mágika e lutam para sobreviverem sem serem devorados pelo conformismo absoluto dos adormecidos ou pelo orgulho excessivo que a capacidade de alterar a realidade pode prover. A esperança é só o que resta a essas pessoas, que de forma quixotesca insistem em seguir em frente contra os gigantes que nunca desaparecem no horizonte. Nessa Guerra, vários vão caindo em batalhas cada vez mais desiguais e mais constantes. E nesse ir e vir de heróis anônimos, o mundo vai tomando seu rumo.

O que eu disse soa muito complexo para você? Você consegue enxergar aí um cenário perfeito para se divertir jogando RPG? Vejam bem, estou falando de um jogo de RPG.  Mas peraí,  sair por aí pilhando e matando monstros, enfrentando vilões caricatos, jogando com personagens turbinados de poderes fantásticos que conseguem exterminar uma horda de orc’s com aquele poder especial que só seu personagem multiclasse tem, também é RPG não é? Claro que sim. E para muitos pode ser extramente divertido, (veja bem, nada contra D&D, eu acho extremamente divertido e pode ser um jogo bem adulto havendo um bom grupo, coisa rara, fato.).

Aonde quero chegar com tudo isso? Nós vivemos num mundo de alguma forma bastante parecido com o que descrevi sobre Mago A Ascensão. O senso comum barra toda forma de expressão e individualidade genuína. Se antes você comprava um all-star e dava a ele sua cara própria, hoje o all-star já vem devidamente com uma aparência suja, ou com caveirinhas, algo que antes era feito na caneta BIC. Se você não consegue enxergar semelhanças entre ambos os mundos, é porque você, meu amigo, é um adormecido. Okay, antes que lancem pedras sobre mim,  eu não estou ignorando os avisos da W.W. de que “é somente um jogo, não confunda com a realidade”, eu estou convocando todos a se utilizarem dele como uma metáfora para a mudança. Para a mudança de comportamento no dia a dia, para fazer o possível para mudar o mundo, e quando digo o mundo, não falo das vítimas do terremoto no Haiti, mas das injustiças que a prefeitura da sua cidade comete, daquele seu amigo homossexual que sofre preconceito todo dia, eu falo daquela biblioteca do seu município que está abandonada. Se nosso mundo anda tão ruim é porque muita gente tem sido  preconceituosa, gananciosa e egoísta, e mais gente ainda tapa os olhos de forma omissa e colabora pra manter as coisas como estão. Óbvio que é do interesse de alguém que uma biblioteca esteja fechada. Conhecimento gera esclarecimento, esclarecimento gera indignação com o que está errado e isso é algo que quem está no poder não quer mesmo!

Mago A Ascensão para mim é sobre isso. Mago A Ascensão é sobre eu e você, sobre como podemos fazer alguma diferença num mundo de adormecidos, que está doente e está morrendo. Sobre como devemos lutar e manter as esperanças por menores que sejam de ter um mundo melhor. Por isso eu jogo Mago a Ascensão, porque eu gosto, porque eu me identifico, porque amo desafios, porque estou cansado de tanta omissão, ignorância e preconceito. Querer mudar o mundo não é agitar bandeiras. É mudar a si mesmo e provocar pequenas mudanças nos outros e naquilo que está a teu alcance.

Por isso eu insisto.

ABRA TEUS OLHOS E DESPERTA!